A Guerra Que Durou 335 Anos (E Ninguém Lutou)

Descubra a inacreditável história da Guerra dos 335 Anos, o conflito mais longo e pacífico da história, entre a Holanda e as Ilhas Scilly. Um esquecimento de séculos que terminou em 1986.


Você consegue imaginar um país em guerra por mais de trezentos anos sem que uma única bala seja disparada, sem feridos, sem mortos e, o mais bizarro, sem que ninguém se lembre disso? Pois é, por mais inacreditável que pareça, essa é a história da Guerra dos 335 Anos, um episódio tão peculiar que mistura a Guerra Civil Inglesa, piratas e um esquecimento que durou gerações. Prepare-se para conhecer um dos capítulos mais curiosos e engraçados da história mundial!

Este não é um conto de batalhas épicas ou heroísmo trágico, mas sim uma anedota histórica que nos mostra como a burocracia e a falta de comunicação podem criar situações hilárias. Acompanhe-me nesta jornada para descobrir como a Holanda e um pequeno arquipélago britânico ficaram “em conflito” por mais de três séculos, e como essa “guerra” chegou a um fim com uma singela assinatura.

O Início Inusitado: Um Cenário de Guerra, Mas Não Essa

Para entender como essa pérola histórica surgiu, precisamos voltar no tempo, mais precisamente para o século XVII, em meio à Segunda Guerra Civil Inglesa. De um lado, tínhamos as forças do Parlamento, os “Roundheads”, liderados por Oliver Cromwell. Do outro, os Monarquistas, fiéis ao Rei Carlos II. Era uma briga feia pelo poder na Inglaterra.

E onde os holandeses entram nessa história? Bem, eles tinham uma aliança com a coroa inglesa, que os apoiou na conquista da independência da Espanha. Por conta disso, os holandeses se alinharam aos parlamentaristas, que eram a parte “oficial” do governo inglês na época. O problema é que a marinha monarquista, mesmo em desvantagem, virou uma dor de cabeça para a frota mercante holandesa, atacando e saqueando seus navios sem dó nem piedade.

O último refúgio dos Monarquistas era um pequeno arquipélago na costa da Cornualha, no sudoeste da Inglaterra, chamado Ilhas Scilly. De lá, eles continuavam suas ações de pirataria, tornando a vida dos comerciantes holandeses um verdadeiro inferno.

Frota Holandesa (Willem van de Velde, o Jovem, 1658)

A Declaração de Guerra: Um Grito no Vazio

A situação para os holandeses estava insustentável. As perdas eram grandes e os Monarquistas das Ilhas Scilly se recusavam a parar os ataques. Foi então que o Almirante Maarten Harpertszoon Tromp, um dos maiores nomes da marinha holandesa, foi enviado para negociar. Sua missão era clara: exigir reparação pelos navios e bens que haviam sido roubados.

Mas as coisas não saíram como planejado. Ao chegar a Scilly, o Almirante Tromp não foi levado a sério e foi recebido com uma recusa categórica. Frustrado e buscando uma forma de pressionar os Monarquistas a indenizar as perdas, ele tomou uma decisão drástica: declarou guerra às Ilhas Scilly em 30 de março de 1651. Ele sabia que a autoridade sobre as ilhas era nebulosa, então optou por declarar guerra diretamente ao arquipélago, e não à Inglaterra como um todo. Uma manobra legal, mas um tanto peculiar, não acha?

No entanto, o destino tinha outros planos. Pouco tempo depois dessa declaração, as forças parlamentaristas de Cromwell, as mesmas com quem os holandeses estavam alinhados, conquistaram as Ilhas Scilly. A ameaça monarquista foi finalmente neutralizada. A frota holandesa, sem motivo para lutar, partiu sem disparar um único tiro. E com essa partida, a declaração de guerra de Tromp simplesmente… caiu no esquecimento.

O Almirante Maarten Harpertszoon Tromp/ Crédito: Wikimedia Commons

Trezentos Anos de Paz Inadvertida: A Guerra Que Ninguém Notou

Os séculos se seguiram. A República Holandesa evoluiu e se tornou o Reino dos Países Baixos que conhecemos hoje. As Ilhas Scilly, por sua vez, floresceram com a agricultura, a pesca e, mais recentemente, o turismo, tornando-se um destino tranquilo e pitoresco. Enquanto isso, a “guerra” com os Países Baixos se tornou uma nota de rodapé esquecida, se é que algum dia chegou a ser lembrada por muitos.

A vida nas ilhas seguiu seu curso normal, sem bloqueios, sem tensões diplomáticas, sem nenhum sinal de que estavam, tecnicamente, em conflito com uma das maiores potências navais da Europa. Era uma paz tão profunda que ninguém se deu ao trabalho de formalizá-la. Imagine só, os moradores das Ilhas Scilly vivendo suas vidas tranquilamente, alheios a um “estado de guerra” que durava séculos!

A Redescoberta e o Fim de uma “Guerra” Histórica

Essa anedota quase perfeita só foi redescoberta em 1985 por Roy Duncan, um historiador e presidente da Câmara das Ilhas Scilly. Enquanto pesquisava arquivos locais, ele se deparou com a surpreendente informação: as ilhas ainda estavam, legalmente, em guerra com os Países Baixos. Um choque e tanto, não é?

Duncan não perdeu tempo e contatou a embaixada holandesa em Londres. Após uma verificação inicial, a embaixada confirmou a bizarrice da situação. A notícia rapidamente se espalhou, gerando um misto de incredulidade, surpresa e, claro, muito bom humor em ambos os lados do “conflito”. Afinal, como uma guerra tão longa poderia ter sido esquecida por todos?

Finalmente, em 17 de abril de 1986, o embaixador holandês, Jonkheer Rein Huydecoper, viajou pessoalmente para as Ilhas Scilly. Lá, em uma cerimônia marcada por um ambiente festivo e descontraído, ele assinou oficialmente um tratado de paz, pondo fim à guerra mais longa e, sem dúvida, a mais pacífica da história. Foi o desfecho perfeito para um conflito que, na verdade, nunca realmente começou.

Ilustração histórica da cerimônia de assinatura do tratado de paz em 1986, com o embaixador holandês e as autoridades locais das Ilhas Scilly/ Crédito: Autor.

Mais Que Uma Anedota: Lições e Curiosidades Históricas

A Guerra dos 335 Anos é muito mais do que uma simples curiosidade. Para os estudiosos do direito internacional, ela levanta questões fascinantes sobre a validade de uma declaração de guerra que não é seguida por hostilidades e a importância dos tratados de paz formais. É um caso de estudo sobre as minúcias da diplomacia e da lei entre nações.

Para você, que adora histórias inusitadas, este é um lembrete divertido de que a realidade muitas vezes supera a ficção. É a prova de que até os acontecimentos históricos mais pequenos e esquecidos podem ter ecos inesperados no futuro, nos surpreendendo com detalhes que parecem saídos de um roteiro de filme.

E para mim, e espero que para você também, esta história reforça a ideia de que há sempre algo novo e fascinante para descobrir nos cantos mais improváveis da história. A curiosidade é uma chama que nunca deve se apagar! Que outras histórias “esquecidas” estarão esperando para serem redescobertas?

O que você achou dessa história incrível? Deixe seu comentário e compartilhe com seus amigos para que mais pessoas conheçam essa curiosidade!

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