Impacto das Políticas de Trump no Agronegócio Global: O Caso Brasil-EUA

Descubra como as políticas de Trump estão remodelando o agronegócio global, afetando exportações do Brasil e a competitividade dos EUA. Leia mais sobre os impactos e implicações para o comércio internacional.


Pontos-Chave

  • Pesquisas sugerem que as políticas comerciais de Trump, como tarifas de 50% sobre importações brasileiras, podem complicar a competitividade do agronegócio dos EUA no mercado global, com impactos significativos para o Brasil.
  • Parece provável que o Brasil esteja ganhando mercado na China devido à guerra comercial EUA-China, mas enfrenta desafios com as tarifas dos EUA, especialmente em produtos como carne bovina, café e suco de laranja.
  • Há controvérsia sobre os motivos das tarifas, com Trump citando déficits comerciais (embora os EUA tenham superávit com o Brasil) e questões políticas, enquanto o Brasil planeja retaliações.

As políticas comerciais do presidente Donald Trump, especialmente suas tarifas protecionistas, estão moldando o cenário do agronegócio global em 2025, com impactos significativos tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil, um dos principais players agrícolas mundiais. Esta análise detalha como essas políticas afetam ambos os países, com base em dados recentes e declarações de especialistas, e explora as implicações mais amplas para o mercado global.

Contexto Histórico e Políticas Atuais

As políticas de Trump têm se caracterizado por tarifas destinadas a proteger indústrias domésticas, muitas vezes desencadeando guerras comerciais. Em 2025, sua administração anunciou uma tarifa de 50% sobre todas as importações do Brasil, efetiva a partir de 1º de agosto, como parte de uma estratégia mais ampla que inclui tarifas sobre outros países, como China, Canadá e México. Essa medida foi justificada por Trump como uma resposta a supostos ataques à liberdade de expressão e déficits comerciais, embora dados do Office of the U.S. Trade Representative mostrem um superávit comercial de bens de US$ 7,4 bilhões com o Brasil em 2024, contradizendo suas alegações. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, respondeu em 9 de julho de 2025, afirmando que o Brasil retaliará com medidas de reciprocidade, com base em uma lei econômica recém-adotada, destacando a soberania nacional.

Historicamente, as relações comerciais entre EUA e Brasil no agronegócio têm sido robustas, com o Brasil exportando US$ 12 bilhões em produtos agrícolas para os EUA em 2024, incluindo US$ 3,7 bilhões em produtos florestais como polpa, US$ 2,1 bilhões em café, US$ 1,3 bilhão em carne bovina e US$ 1,1 bilhão em suco de laranja. Por outro lado, Trump também buscou expandir o acesso ao mercado para produtos agrícolas americanos, como anunciado em um comunicado do USDA em 16 de junho de 2025, que detalhou maior acesso para maçãs americanas no Brasil, entre outros.


Foto de Rinson Chory na Unsplash

Benefícios para o Brasil na Guerra Comercial EUA-China

Uma das consequências indiretas das políticas de Trump tem sido o fortalecimento do agronegócio brasileiro no mercado chinês, especialmente em soja. A guerra comercial com a China, iniciada com tarifas americanas, levou a retaliações chinesas, como tarifas de 10% a 15% sobre US$ 19,5 bilhões em exportações americanas, incluindo produtos agrícolas, em março de 2025. Como resultado, a China, o maior importador mundial de soja, aumentou suas compras do Brasil. Em 2024, o Brasil representou mais de 70% das exportações de soja para a China, com uma colheita recorde estimada em 330,3 milhões de toneladas para a safra 2024-25. Relatórios indicam que os embarques de soja brasileira para o porto de Zhoushan aumentaram quase 50% em relação ao ano anterior, e análises sugerem que a indústria de soja brasileira poderia ganhar US$ 7 bilhões adicionais devido a essas mudanças. A CEO da SLC Agrícola, Aurelio Pavinato, declarou em março de 2025 que “a guerra comercial continua a beneficiar a agricultura brasileira”, destacando o Brasil como um fornecedor seguro para clientes que demandam alimentos.

Essa tendência foi celebrada por agricultores brasileiros, como evidenciado em uma feira agrícola em Confresa, no estado de Mato Grosso, onde o produtor Wesley Moacir Rosa, de 50 anos, afirmou: “Os Estados Unidos estão provocando essa briga”, refletindo o otimismo com as oportunidades criadas. A demanda chinesa por soja brasileira também foi impulsionada por tarifas anteriores, com o Brasil consolidando sua posição como fornecedor dominante, enquanto os EUA enfrentam perdas significativas, estimadas em US$ 27 bilhões em exportações agrícolas entre 2018 e 2019, segundo um estudo do USDA.

Impacto Direto das Tarifas Americanas nas Exportações Brasileiras

Apesar dos ganhos na China, a tarifa de 50% anunciada em julho de 2025 representa um golpe direto para o agronegócio brasileiro nos EUA. Produtos como carne bovina, café, suco de laranja e produtos florestais, que totalizaram US$ 12 bilhões em exportações em 2024, enfrentarão custos significativamente mais altos. Por exemplo, os EUA importaram US$ 1,4 bilhão em carne bovina do Brasil em 2024, e com a tarifa, o preço do produto brasileiro no mercado americano pode se tornar proibitivo, levando empacotadores americanos a buscar alternativas ou enfrentar custos mais altos. O mesmo vale para o café, com importações de quase US$ 2 bilhões em 2024, representando 30% do consumo americano, o que pode resultar em aumentos significativos de preços, como previsto pelo CEO da Cecafé, Marcos Matos, e Giuseppe Lavazza, chairman da Lavazza, que alertou para preços “bem mais altos”.

O suco de laranja, com mais da metade do mercado americano vindo do Brasil, também será afetado, com potenciais isenções mencionadas pelo Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, dependendo de negociações. A Associação Brasileira de Exportadores de Carne destacou riscos para a segurança alimentar global, enquanto produtores brasileiros podem redirecionar embarques para mercados como Argentina, Paraguai, Uruguai e Austrália, segundo a Farm Policy News de 12 de julho de 2025.

A Associação Brasileira de Exportadores de Carne teme impactos na segurança alimentar global, e produtores já avaliam redirecionar vendas para Argentina, Paraguai e Austrália.


Foto de kelsen Fernandes na Unsplash

Efeitos no Agronegócio Americano

Para os EUA, as tarifas podem proteger agricultores domésticos, especialmente produtores de gado, que veem a medida como uma oportunidade de reconstruir a indústria, que está em seu menor nível desde os anos 1950. Senadores como Roger Marshall (R-Kan.) e Deb Fischer (R-Neb.) enxergam oportunidades, citando manipulações de mercado pelo Brasil, como o uso de cana-de-açúcar para etanol, e tarifas desiguais (os EUA enfrentam uma tarifa de 18% nas exportações de etanol para o Brasil, enquanto o Brasil importa sem tarifas para os EUA). No entanto, estudos, como um da NBER em janeiro de 2024, mostram impactos negativos no emprego no setor agrícola devido a retaliações estrangeiras, com perdas significativas em exportações.

A Tax Foundation relatou em junho de 2025 que as tarifas de Trump equivalem a um aumento médio de impostos de quase US$ 1.200 por família americana, refletindo custos adicionais que podem afetar consumidores e, indiretamente, o agronegócio americano, especialmente com preços mais altos de bens importados.

Implicações Globais e Futuro

As políticas de Trump estão fragmentando o comércio global, com especialistas como Brad W. Setser, do Council on Foreign Relations, advertindo que exportadores de commodities podem optar por evitar o mercado americano se forem forçados a alinhar-se politicamente, fortalecendo laços com a China ou a UE. Isso pode realinhar cadeias de suprimento agrícolas, afetando a segurança alimentar e os preços mundiais, com consequências de longo prazo para produtores e consumidores.

Em conclusão, as políticas de Trump criaram um cenário complexo, com o Brasil ganhando na China, mas enfrentando desafios nos EUA, enquanto o agronegócio americano lida com competição reduzida e retaliações. O futuro dependerá de como governos e empresas navegam essas tensões, equilibrando interesses nacionais com a necessidade de relações comerciais estáveis.

Fontes:

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