Descubra como chefs na Guatemala e na Espanha estão usando o calor de vulcões ativos para cozinhar pizzas e pratos gourmet. Uma fusão de gastronomia, aventura e ciência que está redefinindo o conceito de culinária.
Você consegue imaginar o cheiro de queijo derretido e massa fresca assando, não em um forno a lenha, mas sobre rios de lava incandescente de um vulcão ativo? Parece uma cena de um filme de aventura, mas essa é a realidade surpreendente que está redefinindo os limites da culinária. Em lugares como a Guatemala e a Espanha, chefs audaciosos estão trocando os fornos convencionais pelo calor primordial da Terra, criando experiências gastronômicas que são, literalmente, de outro mundo. Essa prática, que une adrenalina e boa comida, está atraindo viajantes e amantes da gastronomia de todos os cantos do globo, todos em busca de um sabor que nasce das profundezas do nosso planeta.
Essa não é apenas uma excentricidade culinária; é um testemunho da criatividade humana e da nossa capacidade de nos conectarmos com a natureza de formas inesperadas. Ao aproveitar o poder geotérmico, esses pioneiros não estão apenas preparando uma refeição, mas servindo uma história, uma aventura e uma conexão direta com a força avassaladora dos vulcões. Prepare-se para embarcar em uma jornada fascinante que vai muito além do paladar, explorando como a lava pode se transformar no mais exclusivo dos fornos e como essa técnica está se espalhando, prato a prato, ao redor do mundo.
Pizza Pacaya: Uma Aventura Gastronômica Nascida do Fogo
No coração da Guatemala, o vulcão Pacaya pulsa com uma energia constante, sendo um dos mais ativos do país. É nesse cenário improvável que o chef David Garcia encontrou sua vocação. A ideia, como muitas genialidades, surgiu da simples observação. Garcia notou que os guias turísticos locais frequentemente assavam marshmallows no calor que emanava das rochas vulcânicas para entreter os visitantes. Aquela cena acendeu uma faísca em sua mente: se é possível assar marshmallows, por que não tentar algo mais complexo e delicioso? Foi assim que, em 2013, ele começou a experimentar, assando suas primeiras pizzas em pequenas cavidades na montanha.
O que começou como um experimento curioso se transformou em um fenômeno global. Com uma grande erupção do Pacaya em 2021, que criou novos rios de lava de fluxo lento, Garcia aperfeiçoou sua técnica e lançou oficialmente a “Pizza Pacaya”. O negócio viralizou, e a imagem de um chef preparando pizzas em meio a uma paisagem vulcânica correu o mundo. Muitos o chamaram de “louco” no início, mas a persistência e a paixão de Garcia provaram que a inovação muitas vezes reside no limiar da ousadia, transformando ceticismo em admiração e filas de turistas ansiosos.

Cozinhar sobre lava é uma dança perigosa com a natureza. As temperaturas ali podem facilmente ultrapassar os 1.000 graus Celsius, exigindo um profundo respeito e conhecimento do terreno. Para se proteger, David Garcia utiliza um verdadeiro arsenal: roupas de proteção que resistem ao calor intenso, botas de estilo militar para caminhar sobre o terreno acidentado e quente, e formas de metal retangulares, capazes de suportar temperaturas extremas. A pizza, com recheios que vão desde a clássica pepperoni até combinações com ingredientes locais, leva entre 10 e 14 minutos para assar. O resultado, segundo quem prova, é uma massa com uma crocância incomparável e um sutil sabor defumado que nenhum forno convencional poderia replicar.
A experiência transcende o ato de comer. Turistas de todo o mundo encaram a trilha desafiadora pelo vulcão não apenas pela comida, mas pela jornada completa. Sentar-se sobre a rocha vulcânica ainda quente, saboreando uma fatia de pizza recém-assada enquanto admira a paisagem de outro planeta, é a verdadeira essência da atração. Como um visitante comentou, “ter uma pizza preparada nas brasas de um vulcão é alucinante e único no mundo”. É a prova de que uma refeição pode ser, ao mesmo tempo, um prato delicioso e uma memória inesquecível.
El Diablo: A Tradição de Cozinhar com o Calor da Terra
Se a Pizza Pacaya representa a inovação e a aventura, o restaurante El Diablo, na ilha espanhola de Lanzarote, encarna a tradição e a engenhosidade. Desde 1970, este estabelecimento único serve pratos grelhados usando o calor geotérmico de um vulcão adormecido. Localizado no coração do Parque Nacional de Timanfaya, uma área moldada por erupções vulcânicas massivas nos séculos XVIII e XIX, o restaurante é um marco da arquitetura sustentável e da culinária criativa, mostrando que a prática de cozinhar com o calor da Terra tem raízes profundas.
A construção do El Diablo foi, por si só, um desafio de engenharia. As altas temperaturas logo abaixo da superfície, que podiam derreter qualquer estrutura convencional, tornavam impossível a escavação de fundações tradicionais. A solução encontrada pelos arquitetos foi brilhante: em vez de cavar, eles construíram para cima, erguendo o edifício sobre nove camadas de rocha basáltica. Essa base robusta permitiu que o restaurante se integrasse perfeitamente à paisagem lunar de Lanzarote, com suas janelas panorâmicas oferecendo uma vista deslumbrante do parque nacional.

A peça central da cozinha do El Diablo é uma enorme grelha circular de ferro fundido, apelidada de “grelha Vulkan”. Ela foi posicionada diretamente sobre uma abertura no chão, de onde emana um calor constante de cerca de 400°C. Nesse grill natural, os chefs preparam uma variedade de pratos, incluindo carnes suculentas, peixes frescos da região e vegetais coloridos. O método de cozimento lento e uniforme confere aos alimentos um sabor distinto e uma textura macia, tudo isso sem usar uma única gota de gás ou um pedaço de carvão. A segurança dos clientes é garantida, já que a última grande erupção na área ocorreu em 1824, deixando para trás apenas o calor latente que hoje alimenta essa cozinha extraordinária.
Volta ao Mundo: Outras Cozinhas Vulcânicas Incríveis
A Guatemala e a Espanha podem ter os exemplos mais famosos, mas a prática de usar o calor da Terra para cozinhar é uma tradição encontrada em diversas culturas ao redor do mundo. Cada uma com suas técnicas e sabores únicos, mostrando uma conexão ancestral com a energia geotérmica. É uma prova de que a necessidade e a criatividade levaram nossos antepassados a descobrir os segredos culinários escondidos sob nossos pés.
Nos Açores, em Portugal, especificamente na ilha de São Miguel, o “Cozido das Furnas” é uma iguaria lendária. Grandes panelas cheias de carnes, linguiças, batatas e vegetais são hermeticamente fechadas e enterradas em buracos cavados no solo quente das caldeiras. Ali, elas cozinham lentamente por cerca de seis a oito horas, apenas com o vapor que sobe do subsolo vulcânico. O resultado é um ensopado incrivelmente macio e saboroso, com um toque mineral sutil que o torna único no mundo. O ritual de desenterrar as panelas é um espetáculo que atrai tanto locais quanto turistas.

Na Islândia, terra de fogo e gelo, o “pão de lava” ou “rúgbrauð” é uma tradição secular. A massa densa e escura de centeio, muitas vezes levemente adocicada, é colocada em potes ou caixas de madeira e enterrada perto de fontes termais. O calor geotérmico constante assa o pão lentamente por até 24 horas, resultando em uma iguaria sem crosta, com uma textura que lembra um bolo úmido e denso. Servido com manteiga ou acompanhando peixe defumado, é um sabor autêntico da história e da resiliência islandesa.
No Japão, uma nação situada sobre o Círculo de Fogo do Pacífico, o uso do calor geotérmico é mais sutil e difundido. O exemplo mais famoso é o “onsen tamago”, ovos cozidos lentamente nas águas termais (onsen). A temperatura constante da água, geralmente entre 60°C e 70°C, cozinha o ovo de forma única: a clara fica com uma textura de pudim sedoso, enquanto a gema permanece líquida e cremosa. É uma iguaria delicada, apreciada em todo o país como um lanche nutritivo e delicioso, demonstrando uma harmonia perfeita entre natureza e gastronomia.
Um Convite à Aventura e ao Sabor
A gastronomia vulcânica é muito mais do que uma técnica de cozimento; é uma filosofia. Ela representa uma fusão poderosa entre aventura, ciência, tradição e uma conexão visceral com o nosso planeta. Seja a audácia de uma pizza assada sobre lava corrente na Guatemala, a engenhosidade de um grill secular na Espanha, o ritual comunitário de um cozido nos Açores ou a simplicidade de um pão assado na Islândia, cada prato conta uma história sobre o lugar de onde veio.
Essas experiências nos lembram que a cozinha não tem limites e que os ingredientes mais extraordinários, por vezes, não estão no prato, mas no próprio método. Para os chefs que se atrevem a domar o calor da Terra, cada refeição é uma celebração da força da natureza. E para nós, os aventureiros e amantes da boa comida, fica o convite para explorar esses sabores únicos. Você se atreveria a provar uma iguaria nascida do fogo de um vulcão?
E você, qual dessas experiências gastronômicas vulcânicas mais despertou sua curiosidade? Deixe seu comentário abaixo e compartilhe este artigo com aquele amigo aventureiro que adoraria provar uma pizza assada na lava!